A Argentina que não chore, agora, parodiando a letra da clássica canção Don't cry for me Argentina (Não chores por mim Argentina), da peça musical Evita, de 1978. Quarenta e cinco anos depois de não chorarem pela ex-primeira dama Eva Péron, os hermanos elegeram o ultradireitista Javier Milei presidente do país em um pleito apertado: cerca de 56% dos votos, em segundo turno, realizado neste domingo, 19, contra quase 45% do candidato governista e atual ministro da Economia, Sergio Massa.
Milei assume o cargo de presidente pelos próximos 4 anos. Ele foi o candidato da coalizão La Libertad Avanza. Em seus discursos, chegou a dizer que este é o momento de esperança para a Argentina, para impedir a “continuidade da decadência”. Sua mira atinge diretamente a grave crise econômica que o país amarga nos últimos 12 meses, com uma inflação na casa dos 3 dígitos, cerca de 143%. Sua contraofensiva para vencer o inimigo é 'dolarizar' a economia argentina, e extinguir o Banco Central para acabar com a inflação. Outros alvos de Milei, como a saúde e a educação públicas, ficaram de fora da sua ira no segundo turno, quando ele prometeu não privatizar essas duas áreas.
Não apenas o corte de cabelo ou a manutenção das costeletas no rosto tornam Milei um homem peculiar. Por amar os cães, por exemplo, dizem por aí que ele possui - vários - clones de um cachorro que viveu de 2004 a 2017. Outra curiosidade - fora a aparência e o gosto por pets 'repetidos' - é o eleitorado que alçou o ultradireitista à vitória: Javier Milei conquistou os votos dos mais jovens por se posicionar contra políticos tradicionais, a quem chamou de 'a casta'.
Durante sua campanha, não faltaram comparações com o ex-presidente norte-americano Donald Trump, e o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro. Nenhuma novidade sendo Milei defensor de temas, no mínimo, excêntricos, incluindo a comercialização de órgãos e a livre venda de armas de fogo. Javier é um anarcocapitalista, para quem não sabe o que significa, trata-se de ser adepto ao anarquismo de livre mercado - ou anarquismo de propriedade privada -, filosofia política libertária que defende o direito a soberania do indivíduo através da propriedade privada e do livre mercado. E, para Milei, seu conterrâneo e maior autoridade da Igreja Católica, o papa Francisco, é um comunista. E nem é preciso dizer o que ele acha do Brasil, e vice-versa.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou suas redes sociais para parabenizar as instituições argentinas - novamente, as instituições argentinas -, pela condução do processo eleitoral, bem como ao povo argentino pela participação "de forma ordeira e pacífica". Lula ainda desejou sorte - e não lágrimas - ao próximo governo hermano: "Desejo boa sorte e êxito ao novo governo. A Argentina é um grande país e merece todo o nosso respeito. O Brasil sempre estará à disposição para trabalhar junto com nossos irmãos argentinos".
Enquanto o atual presidente brasileiro usava o ambiente virtual de forma - tímida - diplomática para se manifestar a favor da democracia presente no pleito das instituições argentinas, o ex-presidente do Brasil foi mais longe e mostrou que tem mais intimidade no uso das modernas ferramentas digitais para comemorar a vitória da ultradireita no vizinho: Bolsonaro e Milei conversaram divertidamente em uma chamada por vídeo no celular. Às gargalhadas, celebraram um possível momento em que a Argentina não deverá chorar por mais essa escolha. Será?
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