A terra da garoa. Paulicéia Desvairada, selva de pedra onde os sonhos são feitos. Estes e todos os outros clichês possíveis e que como todo clichê, traz uma grande verdade. O céu eternamente cinza e as filas de carros e pessoas e tudo sempre tão cheio. Tanta pressa de quem vem e vai. A poluição, o crime, o dinheiro. As quatro estações (não as de Vivaldi, aquelas do clima mesmo) em um dia só. Cadeiras a voar em debates políticos. Os Van Goghs da Paulista e o lixo do Tietê. Lar de extremos, de opostos, de excessos. Como o Brasil. Prazer, meu nome é São Paulo.
Eu não vim para cá esperando sossego ou paisagens idílicas, se buscasse isso teria optado pela Suíça. No fundo, eu queria um pouco de caos também – um caos maior do que aquele dentro de mim. Quinze anos atrás, avistei esse mar de prédios pela primeira vez e fui ficando, como tantos outros. Muitas idas e vindas. Para todos nós, emigrantes,imigrantes, migrantes, construtores de tudo isto aqui com suor e sangue e muitas, muitas, muitas lágrimas, São Paulo é um ideal, uma meta. Para um certo garoto de cidade pequena que amava escrever e desde sempre acompanha tudo pela TV, São Paulo era também um sonho – e como tal, inatingível. Mas ele e milhões de outros o vivem hoje.
São Paulo é um yin e yang. O lugar onde tudo o que um dia será começa. O ponto de partida para todo o país do bom e do mau – e aqui pessoalmente prefiro pensar que os prós superam os contras. Este microcosmo do Brasil inteiro em sua quintessência e horror. Eu amo São Paulo, nós amamos São Paulo e a odiamos também em igual medida. É desta dicotomia delicada da qual esta cidade e este país também são feitos. Mas vamos fingir que São Paulo é só uma cidade e nada mais.
Enquanto finalizo este primeiro texto, que em formato de crônica vai trazer um pouco disto tudo para vocês, eu a vejo e sinto os seus humores em um certo dia de verão. Os prédios até onde a vista alcança, o sol a teimar uma saída, as pessoas cuja pressa é perceptível mesmo deste oitavo andar. Mais de quatrocentos anos atrás, os jesuítas em marcha pelo Planalto de Piratininga mal podiam desconfiar. Pobres deles, pobres de todos nós. Nós somos tudo isso, o caos, a beleza, o horror, a mudança constante. E as histórias, muitas, muitas, muitas em uma só. Comecei com um lugar comum e termino com outro: São Paulo, eu te amo.
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