Quinta, 13 de Fevereiro de 2025 03:36
Cultura Globo de Ouro

Fernanda, Fernanda

Baita sorte de ter nas nossas vidas esses dois patrimônios da cultura nacional: as nossas duas Fernandas, a Torres e a Montenegro

20/01/2025 19h52
Por: Alex Cavalcanti
Fernanda Montenegro no Globo de Ouro em 1999, Fernanda Torres na edição 2025 do evento. Foto: Reprodução
Fernanda Montenegro no Globo de Ouro em 1999, Fernanda Torres na edição 2025 do evento. Foto: Reprodução

Baixa a poeira e sossegada a euforia deste êxtase coletivo que foi a vitória no Globo de Ouro, me ponho a pensar na nossa baita sorte de ter nas nossas vidas esses dois patrimônios da cultura nacional: as nossas duas Fernandas, a Torres e a Montenegro. E junto delas, essa coleção de tesouros vivos e presentes no nosso dia a dia – Caetano, Gil, Bethânia, Alcione e tantos outros. Tudo nosso, ao vivo e em cores.

Para nós, a vitória da Nanda (atrevo-me a chamá-la assim, como a uma boa amiga) na 82ª edição não foi uma surpresa; não precisávamos de qualquer comprovação do seu talento ou do seu poder em cena – nem os gringos também precisavam: eles já sabem desde 1986, quando ela foi premiada no Festival de Cannes. Presidida pelo lendário diretor Sydney Pollack, a 39ª edição do tradicional evento francês coroou a atuação da nossa Fernanda em Eu sei que vou te amar, longa do também gigante (e saudoso) Arnaldo Jabor.

Eu ainda estava longe de nascer e assim, não sei dizer como era o mundo de então; mas creio que sem internet nem redes sociais, não houve esse clima de final de Copa do Mundo – a própria Fernanda declarou em entrevista a surpresa que foi, imersa nas gravações do remake de Selva de Pedra. Como dizem, a fruta não cai longe do pé.  Faltam palavras para descrever o que foi ver a Fernanda (Torres) no mesmo palco onde, um quarto de século antes, a Fernanda (Montenegro) também discursou em agradecimento ao prêmio dado a esta jóia do cinema nacional que é Central do Brasil, do mesmo Walter Salles, do delicado – e necessário -  Ainda estou aqui.

 A vitória não foi coisa pouca. Atuando em português, ela desbancou uma Nicole Kidman no auge da sua potência e premiada em Veneza, uma Tilda Swinton dirigida por ninguém menos do que Pedro Almodóvar ou um ícone em estado de graça como Angelina Jolie, interpretando outro ícone e diva das divas, a soprano Maria Callas. Isso só para falar de algumas das concorrentes. No páreo, todas atrizes maduras e no auge das suas capacidades cênicas. Fico arrepiado só de pensar. Abençoados somos todos nós por poder vê-la e entendê-la e amá-la, como também comungar com gente como Machado de Assis ou Elis Regina. E os gringos agora que os descubram e os aproveitem, como bem faz a Cate Blanchett proclamando Clarice Lispector mundo afora.

Sou devedor da Fernanda (Montenegro) outra dessas memórias para se guardar a vida toda, um momento de comunhão como eu só senti pouquíssimas vezes na vida – o outro foi também recente, ver e sentir a Madonna de camisa da seleção em Copacabana. Fernanda Montenegro, senhoras e senhores, declamando Simone de Beauvoir depois de um pôr do sol épico no Ibirapuera. Eis tudo. 18 de agosto de 2024, que como este 05 de janeiro de 2025, deveria ser feriado nacional.

Nossas duas Fernandas mostram que mesmo um país dividido, embrutecido, também é capaz de celebrar e unir-se em torno de algo tão antigo, humano e profundo – a arte. Tremo só de pensar no que eles ainda podem fazer juntas ou separadas. E que venham mais Vanis, Eunice Paivas, Bias Falcão, Compadecidas. Personagens inesquecíveis que nos fizeram rir e chorar. Que venham mais prêmios também, como o Emmy da Fernanda (Montenegro), o Globo de Ouro da Fernanda (Torres) e aquela certa estatueta dourada roubada de nós em 1999 que enfim pode chegar ao Brasil em pleno domingo de carnaval.

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Eduardo Há 3 semanas São Paulo Cirúrgico! Que vivamos mais Brasis!
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Sobre Alex Cavalcanti
Jornalista de profissão e escritor de coração, nordestino da gema radicado em São Paulo e colunista deste site.
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