Maio chegou como um velociraptor: foi Lady Gaga em Copacabana, conclave, Baile do Met. Festival de Cannes aí já com a cabecinha para fora. E por fim, estes dois eventos canônicos dos quais não posso fugir: o segundo domingo de maio e o aniversário deste que vos fala. Sem querer soar auto celebrativo, mas esta é a única ocasião do ano permitida e vou aproveitar a deixa.
É ótimo ser o centro das atenções, sentir-se especial. E nesta data, eu fui muito. Bem antes das festas infantis virarem essa indústria de hoje e quando tudo era providenciado por família e amigos, dos doces à decoração, eu tive festas de aniversários épicas. Coisa de príncipe mesmo - e incorporei muitos deles. Fui o Aladdin, o John Smith, o Peter Pan. Com tudo de muito bom gosto com a ajuda de tias, verdadeiras fadas madrinhas e responsáveis por me fazer sentir em uma história da Disney. Merci beacoup, mesdames tantes.
Assim tão mal-acostumado, comecei a enfrentar os percalços da vida adulta e descobri: o mundo estava bem pouco disposto a me proporcionar um conto de fadas no dia do meu nascimento. E o aniversário passou a ser uma data comum, meio deprimente até - alguns, um verdadeiro infernal astral. Teve um ano no qual fui demitido. Em outro, tomei um pé na bunda. Em outro, pior ainda, perdi a conexão de um voo de volta para casa e comemorei assim, sozinho no terminal, no meio de uma madrugada fria e sonolenta. Happy birthday to me.
Quase cheguei a pensar como uma grande amiga, irmã de coração me presentada pela vida e que sempre encarava o aniversário como mais um passo rumo à morte certa a esperar a todos nós lá no fim da linha. "Menos um" era o mantra. Dramático não? Amo a minha sorella, mas discordo dela. Agora, sou do time do "mais um". Mais um ano de vida. Lágrimas sim, muitas às vezes, sufocos, ódios também. Tédio. Faz parte, nem todos os dias são de sol e as tempestades são úteis. Houve risos e amores e é sobre eles o meu agradecimento. Mais um ano. Porra - perdão pelo linguajar - isso tem de ser comemorado!
Ressignifiquei a data, de todas as formas possíveis. Muito inimigo do fim, peguei a ideia do desaniversário de Alice no país das maravilhas e nos outros 364 dias do ano quando não é meu aniversário, comemoro também. Uma ida ao cinema, um café comigo mesmo ou com alguém especial, uma ligação para aquela pessoa querida que não vejo há tempos. Comemorações nem sempre precisam ser épicas.
Em uma dessas muitas ocasiões, um feliz acaso fez com que uma mudança essencial, dessas raras viradas de chave ocorridas na vida, aconteceu justamente em um certo dia de maio de 2019: a minha mudança definitiva para esta cidade da qual vos escrevo. Depois de muitas idas e vindas e temporadas ora aqui, ora lá, eu enfim podia dizer: São Paulo era a minha cidade.
O tempo passa e eu continuo firme neste propósito de comemorar sempre o meu aniversário. Sozinho ou acompanhado, em um dia de sol ou chuva, não importa, essencial é sempre celebrar, do jeito que der. Meus parabéns para todos vocês que também pensam assim. E parabéns para todas as mães, para todos os nascidos em maio, assim sem tanta poesia quanto no soneto do Vinícius, mas com muito amor também.
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