Do latim aequilibrium, este estado se refere à capacidade de manter-se estável mesmo quando se é impelido por forças opostas. Tão buscado e difícil mais ainda de manter do que de encontrar, ele é pré-requisito desta outra raridade chamada felicidade, igualmente procurada por todos nós.
Pode parecer até irônico falar de equilíbrio na cidade dos contrastes, dos excessos, dos opostos. Onde o desequilíbrio é regra, não exceção e facilmente encontrado em cada esquina. Como o personagem do conto do Edgar Allan Poe, vivemos entre o poço e o pêndulo, nos equilibrando constantemente em uma corda bamba sem fim.
Quem nunca se sentiu bombardeado por todos os lados? É a pressão não só de conseguir e manter um emprego, mas de ser promovido e se destacar nele. Ser pressionado não apenas para encontrar alguém, mas para ter aquela felicidade para postar no feed. Isso sem falar de ser saudável e ter empatia e tempo para tudo e para todos, enquanto o planeta é constantemente palco de guerras, instabilidades diversas, desastre naturais. Parece mais fácil achar petróleo no quintal de casa do que este sonhado equilíbrio.
Em um dos seus livros mais conhecidos, o fundador da psicanálise discute o fato da cultura produzir este mal-estar fruto da interação entre as forças pulsionais e a civilização, o eu e a sociedade. Para Freud, a história toda se resume no título a captar tão bem estes nossos tempos: o mal-estar na civilização. Na certa, nossos antepassados neandertais deviam ser mais simples. Se havia um pouco de comida e uma caverna, tudo devia estar bem.
Estamos na era dos bebês reborn. Afeto e cuidado são desperdiçados com quem não precisa deles e a relação ideal é unilateral. Finjo que cuido, amo e me preocupo e em troca, recebo um olhar carinhoso, mas vazio, inerte e cá entre nós, meio assustador. Sempre lembro do Chucky e da Anabelle quando penso nestes bonecos e nas suas ausentes queixas, decepções e lágrimas - o outro lado da moeda do qual ninguém gosta, mas parte essencial de qualquer interação humana verdadeira. Nem me detenho muito no fato de em um lugar como o Brasil, alguém gastar R$10 mil num boneco de plástico; cada um faz o que bem entende com o próprio tempo e dinheiro, mas em um país no qual milhões não tem o que comer, algo nesta conta não fecha. Equilíbrio, o que é isso mesmo?
São Paulo, como este resumo do país e do mundo inteiro, me mostra: esta é uma luta infindável e inglória. A batalha é solitária, sem garantia de êxito e esse nosso utópico e tão buscado estado de paz pode ser facilmente quebrado, tomado de nós. Além de raro, ele é bem frágil, como a bolha de sabão a qual todos admiramos, mas impossível de manter por muito tempo. Sigo eu também nesta luta. Constantemente soprando bolhas, me deslumbrando com elas e logo vendo todas serem destruídas, pelas pessoas e pelo mundo ao meu redor, às vezes por mim mesmo. Talvez eu teorize e dificulte demais algo natural e até fácil de encontrar. O equilíbrio é aquela palavra amiga, aquele abraço apertado, o chegar em casa depois de um dia difícil, uma manhã de sol depois da tempestade – enfim essa coisa estranha chamada felicidade.
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