Nasci aonde o sol chega primeiro e com DNA carioca, sempre associei o verão com alegria: praia, sorvete, calor. E o inverno era o oposto disto tudo - frio, chuva, tristeza. O tempo passou e por aqui aprendi a ressignificar as coisas e ver a baixa temperatura nem sempre como sinônimo de falta de vida. Seja em São Paulo ou em outros tantos lugares por onde já andei - os becos da Alfama, as ruazinhas de Montmartre, as vielas da Lombardia - sinto o inverno a pulsar e por si mesmo aquecer nosso coração.
Depois de anos convivendo com as consequências do aquecimento global, descobri: o inverno paulistano já não é mais o mesmo. Uma ou duas semanas mais amenas com média deliciosa de 15 graus (para quem já enfrentou um abaixo de zero europeu, isso não é nada) e depois o velho e cada vez mais insuportável calor de sempre. A terra da garoa está meio diferente. Assim, a frente fria a abrir este inverno, com as temperaturas mínimas mais mínimas de que se tem notícia em muito tempo é um convite. E com ele, sopas e bebidas quentes e entre taças de vinho e xícaras de café ou chá, procurarmos resistir.
Claro, nem todos experimentam este inverno de aconchego tão familiar para mim. E são nestas épocas de extremos, gelo ou fogo, quando esta cidade por si só já extrema mostra a sua face mais cruel. Experiência de inverno bem diferente é aquela de quem não tem onde morar ou mora precariamente - e na maior cidade do país, eles são milhares. Inverno não é só tirar os casacos do armário nem reclamar do verão ausente: para muitos, é uma época de sobrevivência.
Ele nos acompanhará até setembro e como bem sei, até outubro noites e madrugadas frias serão nossas companheiras. E São Paulo quando quer, sabe ser gelada: seja nas avenidas ou nas estações de metrô sem fim, o gelo da metrópole faz de fato gelar a espinha. O tempo frio, como a própria cidade, não suporta meios termos - há quem os ame ou odeie na mesma intensidade.
Inverno ainda mais frio é aquele no qual tantos outros vivem: o gelo da indiferença. Acostumados com poluição e violência, não nos chocamos com mais nada. Na cidade que nunca para, aceitamos o inaceitável e se não temos tempo para lidar nem com as nossas dores, quem dirá com as dores alheias - ambas sepultadas por camadas e mais camadas de gelo, nesta Gotham City onde os bandidos andam livremente e não há nenhum super herói mascarado para nos salvar.
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